Goethe sentenciou que preferia a injustiça à insegurança e isso se tornou um mantra de repúdio por boa parte das cabeças libertárias. Quando disse isso, o filósofo alemão estava justificando que entre eventuais atitudes injustas causadas pelo erro de atuação da autoridade estatal e a ausência desta atuação – que gerava insegurança seja pela omissão, seja por não se saber o que poderia ou não poderia ser feito diante do Estado e da sociedade – preferia a primeira hipótese, pois ao menos a ideia de injustiça exara o sentido de que se sabe o certo e o errado, enquanto a insegurança é justamente o desatino destes sentidos.
Uma sociedade permeada de direitos impraticáveis é melhor que uma sociedade com direitos mínimos mas respeitados?!
Uma sociedade que, nos seus indivíduos, se permite a prática do que é moralmente condenável tem legitimidade de exigir do Estado que lhes preste a devida segurança?!
Um Estado que privilegia seus integrantes e exige do conjunto privado o que não exige dos seus é capaz de promover a alardeada “justiça social”?!
O cenário atual só poderia ser mais agravado em termos de insegurança social se estivéssemos em guerra. Com mais de 110.000 mortes violentas por ano, o Brasil supera qualquer país do mundo em números proporcionais ou absolutos de mortes, salvo os em conflito bélico.
E isso muda algo?! Mesmo que seja uma mudança errada, daquelas que demonstram que ao menos se tem atitude frente ao que acontece… algo muda?! Digo que sim. A lei. A lei no Brasil muda corriqueiramente. É o positivismo pregado por Goethe aplicado subversivamente pelo nosso jeitinho. No Brasil, toda vez que a autoridade governamental não sabe como resolver algo ela muda a lei. E aí, ao menos oficialmente, tudo está resolvido. A culpa, se der errado, é dos que não a cumprem.
Acontece que nosso problema é justamente esse! O Brasil é formado por uma exército de pessoas que acham que podem fazer o que querem e não haverá consequências. Acham que a velocidade excessiva não mata. Acham que o aumento de adicionais e subsídios é mais importante que o repasse de valores aos hospitais. Acham que o ar condicionado no gabinete é mais útil que na escola. Acham que o lixo no bueiro não dá nada. Acham que comprar contrabando, pagar por TV clandestina e colocar rádio roubado no carro é bobagem.
Existe uma sociedade hipócrita sim no Brasil, mas não apenas com relação ao racismo, às diferenças de gênero e aos casos de abuso noticiados. Nossa hipocrisia é achar que podemos agir mal e viver bem, é olhar pela janela de binóculo e no espelho de revesgueio.
O mundo civilizado está percebendo, com os ataques terroristas, que não há Estado capaz de impedir a má atuação humana. O que nos protege de nós outros são nossas atitudes. O que assegura que meu vizinho não me fará mal é o meu relacionamento com ele, a minha e a sua posturas. O máximo que o Estado pode fazer é punir aquele que já ultrapassou a barreira da legalidade.
Pois bem, no Brasil ainda esperamos que os outros resolvam nossas paradas… seja a polícia, seja o governo, seja o Judiciário, seja o Badanha. Tem meia dúzia de sem vergonhas que fazem o que querem, servem de mau exemplo aos incautos e o resto assiste omisso.
Que 2016 marque um recomeço individual em nossas vidas onde deixemos de esperar que o externo faça algo por nós e passemos nós a fazer algo pelos demais.