Nada pode ser efetivo sem liberdade. Nada. O casamento precisa de liberdade. A produção precisa de liberdade. A governança, a literatura, a ciência, o esporte, a amizade… tudo precisa de liberdade.
Gandhi ensinou que “de nada adianta a liberdade se não temos a liberdade de errar”. Liberdade de errar não é podermos errar de propósito, tampouco errarmos por maldade. É o erro buscando o acerto, pois caso contrário não houve um erro mas uma intenção.
Já a filosofia clássica grega dizia que os homens apaixonados e os viciados não são livres. A liberdade decorre da extinção das nossas limitações, pois, caso contrário, embora possamos fazer o que quisermos, ainda estaremos subjugados a algo. E onde há jugo não há liberdade.
Quem trabalha por dinheiro não é livre. Quem casa por interesse não é livre. Quem realiza por vaidade não é livre.
Ainda que não se dê valor a isso do ponto de vista prático, a vida está aí a ensinar (especialmente os mais maduros) que isso está provado ser assim. A vida prova todos dias que depende de construções e valores para se manter.
Há nas Cortes Superiores de diversos países o debate se a vida é mais importante que a liberdade (quando se julga, por exemplo, o suicídio e a eutanásia). Esse debate, em verdade, é menos sobre liberdade e mais sobre a vida, porque ambos valores tem a mesma grandeza.
Vivemos uma época de liberdade plena. Ao menos no ocidente. Ainda que haja os retrógrados de todos os polos ideológicos que entendem devamos limitar a liberdade dos opositores, a verdade é que, mesmo com todo esse esforço, a liberdade tem prevalecido no campo individual, precisando chegar de forma madura às instituições, especialmente nas estatais.
O elemento de construção da liberdade é a disciplina e o elemento de manutenção da liberdade é a responsabilidade. A liberdade, portanto, não existe como valor por si. Se optarmos em tornar a liberdade um valor absoluto, precisamos disciplinarmo-nos para tal (há um ditado japonês que ensina: “a disciplina é mais importante que a inteligência”). Com o aprendizado, perceberemos que só há liberdade responsável, aquela em que podemos errar mas seremos responsáveis pelo erro e, portanto, pela reparação quando for necessário e possível.
Numa época em que todos podemos dizer o que quisermos, em que todos podemos optar por viver como quisermos, o debate sobre o uso e a manutenção da liberdade deveria ser incorporado à educação formal que, por sinal, tem ensinado demasiadamente conteúdos sem valor, fazendo com que o aluno estude e não entenda o porquê. É a disciplina (etimologicamente falando) que nos falta para desfrutarmos plenamente nossa liberdade.