A revolução e a guerra

Você aí consegue achar uma revolução que deu certo? Quero dizer, uma atingiu os objetivos propostos por seus próprios esforços? E uma guerra… você consegue achar uma que atingiu os objetivos que a justificavam?

O Império Russo era um dos maiores do mundo no final do Século XIX. O seu líder (o Czar, palavra de deriva do César romano) era o representante da família real Romanov (aqui de novo uma homenagem aos romanos). Naquela época a Europa efervescia de movimentos populares com objetivos democráticos e republicanos. Algumas ideologias se contrapunham entre si e quase todas contra a monarquia e a aristocracia tradicional.

Pois a Rússia promoveu uma revolução poderosa em 1917 e implantou pela primeira vez na História uma proposta ideológica de governo e sociedade artificial (nunca vivida nem construída aos poucos em substituição a outra) e absolutamente radical, que se mostrou violenta, autoritária, restritiva, discriminatória, sob o pretexto de que um projeto tão diferente de sociedade dependia de medidas extremas.

Todos sabemos o resultado, embora se insista em interpretar esta parte da História com um romantismo de identidade e afinidade.

O ponto de reflexão aqui proposto é: essa enorme revolução que depôs (e executou) a família real e outros milhões de cidadãos deu certo ou deu errado?

Podemos escolher outras revoluções importantes, como a de 1789 na França ou a de 73 a.C. em Roma (dos escravos) e avaliarmos: deu certo?

Raríssimas revoluções deram certo na História.

Vejam: a Revolução Francesa venceu as sua batalhas armadas, mas pouco tempo depois a França voltou a ter um Imperador e, daí, vê-se que mudar efetivamente não é algo que depende tanto da luta quanto da vontade da maioria.

É por isso que a democracia tem se estabelecido como um modelo viável de governança. As revoluções que deram certo, as poucas, foram para este lado na história recente.

Já com as guerras isso é bastante diferente. Bastante. A guerra é um conflito entre soberanias, ente estados ou entre lideranças políticas estabelecidas. As guerras tendem a ter motivos e objetivos menos complexos do ponto de vista ideológico, ainda que possam ser parte de um grande contexto. As guerras definem de forma efetiva a governança dos envolvidos, impactando em todos os sentidos.

O que estamos vivendo novamente na Europa (o continente “mais civilizado”) é, ao que parece, uma guerra sem propósito de imposição ideológica, como se pretende. É puramente interesse material e poder político, sem alterações sociais, sem debates efetivos de reconstrução governamental e cultural, com o objetivo puro e simples de expansão territorial e econômica.

Acreditávamos que a era dos imperialistas bélicos acabaria em breve, porque um novo tipo de imperialismo já existe. Contudo, o mundo não é (como se gostaria) um lugar plano e igualitário. As pessoas não são todas iguais. Não nos basta para termos paz que desejemos isso ou que nos afastemos das armas. Embora seja evidente este silogismo ele é desconsiderado em demasia no nosso tempo… e cá estamos.

Se a guerra proposta pela Rússia for vencida, a Europa não será a mesma, porque os russos (e os chineses) evidentemente não querem apenas parte da Ucrânia. Se os russos efetivamente vencerem a guerra, por muitos e muitos anos viveremos tentativas de revoluções para reconstruir o caminho democrático.

É por isso que a democracia é o único modelo viável de governança. Isso para quem a constrói adequadamente, institucionalmente, efetivamente. E essa construção, infelizmente, depende da capacidade bélica de defendê-la.