Independência

A Princesa Maria Leopoldina nasceu na Áustria em 1797, na nobilíssima família dos Habsburgos. Lá era arquiduquesa, filha do imperador Francisco. Casou-se com Dom Pedro por procuração em Viena, em 1817. Era uma mulher culta, fluente em quatro ou cinco idiomas, admiradora das ciências naturais e comprometida com os valores que as famílias reais de sua época dispunham, dentre os quais a religiosidade, a fidelidade e a família.

Diz-se que Leopoldina sempre fora apaixonada por Pedro até morrer, em 1826. Essa paixão começou antes mesmo do convite de casamento, que foi providenciado pelo embaixador brasileiro através de um séquito com dezenas de carruagens que circularam por Viena para o cortejo. Naquela época Portugal era uma das potências mundiais e a união das famílias dos Habsburgos com os Bragança representava um imponente comprometimento internacional.

Pois é impossível falarmos da Independência do Brasil sem falar da Princesa Leopoldina: foi ela, em 02 de setembro de 1822, quem assinou o Decreto de Independência, com a influência e o apoio do Conselheiro Real José Bonifácio. A Princesa estava exercendo a regência governamental do país desde 13 de agosto, quando Pedro fora para São Paulo sob a justificativa oficial de lidar com turbulências políticas regionais. Sendo uma governante habilidosa no trato humano, era respeitada e profundamente integrada aos assuntos de interesse político e administrativo do Brasil. Percebendo que os movimentos imperiais portugueses de revide ao crescente levante republicano e de independência que ocorriam por aqui levariam Portugal a intervir mais violentamente na política brasileira, Leopoldina foi advertida pelo Conselho de Estado de que não havia mais tempo a se esperar para a separação com Portugal. Havia o risco iminente de o Brasil tornar-se um campo de batalhas regionais em busca de independência para a formação de repúblicas, como ocorrera na América espanhola, o que não só fracionaria o Brasil, mas colocaria uns contra os outros na delimitação de territórios e na formação de governos locais.

A Princesa assina, assim, o Decreto e manda um mensageiro procurar por Pedro em São Paulo, informando a decisão do Conselho de Estado e sugerindo que ele providenciasse a Proclamação da Independência publicamente.

No dia 7 de setembro a mensagem chega ao conhecimento do Príncipe Regente às margens do Rio Ipiranga, em São Paulo. Pedro encontrava-se amolado com uma indisposição intestinal e, sem o glamour que muito tentou-se dar ao ato, montado provavelmente em uma mula (tipo de montaria que se usava nas viagens daquela região) e acompanhado de uma guarda formada por apoiadores e admiradores da monarquia (longe de ser os Dragões da Independência que hoje conhecemos), Pedro declara a independência do Brasil e devolve a mensagem para que fossem tomadas as providências oficiais pertinentes.

A Independência do Brasil naquele momento torna-se um dos motivos pelos quais nos mantivemos unidos como país, sem o fracionamento do território de acordo com os interesses regionais, principalmente porque a monarquia é mantida. Uma coisa sustentou a outra. Se mantivéssemos o vínculo com Portugal, certamente os movimentos republicanos de cada região teriam se insurgido contra o governo central.

Leopoldina torna-se rainha no mesmo ano. Com Pedro teve sete filhos, sendo que os dois meninos mais velhos morreram nos primeiros anos de vida, repetindo uma sina comum aos Bragança. O seu filho mais novo, Pedro, tornou-se o segundo imperador brasileiro (adquirindo muito dos valores e do comportamento da mãe).

A Imperatriz Leopoldina faleceu no final de 1826, louca e depressiva. A causa seria resultado de anos de desgostos matrimoniais causados pelos casos públicos de infidelidade do marido. Leopoldina ressentia-se pela dedicação dada ao marido, à família e ao Brasil, sem o respeito do Imperador. Sua morte foi motivo de comoção nacional e de indignação, pois a população da capital conhecia os motivos do sofrimento da amada matriarca da independência.

A humanidade caminha à sua média

Imagine um militante contra a escravidão há dois mil anos. Ele provavelmente não seria respeitado nem mesmo por um escravo eslavo ou por um galês, pois estes, se deixassem a condição de escravos dos romanos, lutariam as suas guerras para terem seus próprios escravos. Um militante contra a escravidão não seria respeitado nem mesmo no norte da África há 400 anos, seja porque a religião muçulmana autorizava (e para alguns, incentivava) a escravidão dos vencidos, seja porque a cultura de diversos povos africanos não islamizados vivia isso há séculos.

Imagine uma militante feminista há mil anos numa tribo indo-americana. Ela provavelmente seria convencida por algum ancião compreensivo e generoso a deixar suas ideias de lado e concentrar-se no trato de sua família.

Imagine um pacifista budista tibetano tentando convencer os chineses a serem pacíficos e deixarem a invasão do Tibet em meados do Séc. XX, pouco antes do Dalai Lama ser forçado a deixar seu país e refugiar-se na Índia.

Imagine certo governante vegano em nossos tempos determinando que todos os cidadãos do seu país se abstenham de sacrificar animais para alimentar-se, sob o argumento de que nossa tecnologia já nos permite encontrar outras formas de alimentação que dispensem o aprisionamento e a morte de animais.

Imagine determinar-se há 1000 anos que todas as pessoas só começassem a trabalhar depois de concluir treze anos de ensino fundamental. Provavelmente seria o fim daquela sociedade por insuficiência de alimentos em não mais que duas gerações.

A humanidade caminha à sua média. Não é possível impormos valores a uma geração. Não é possível!

Podemos, por óbvio, impor regras e leis… não os valores das pessoas. Podemos, contudo, impor regras e leis que, gradualmente, vão alterar os seus valores. Mas podemos principalmente ensinar valores. Isso sim!

Contudo, jamais poderemos ensinar valores que são incompatíveis com a realidade daquela sociedade. Um exemplo claro é a imposição desarmamentista aos brasileiros, só respeitada por quem desejava essa condição romântica (e ainda impossível) de desfazimento das armas quando ainda há os violentos e desprovidos de respeito humano por aí.

Há muito mais a ser refletido sobre o título deste texto… mas veja você que mesmo Jesus Cristo ou Buda ou qualquer outro grande nome da humidade (mesmo estes outros que são tidos como grandes nomes ainda que não o sejam) não foram capazes de impor valores. Sequer foram devidamente compreendidos e apenas muito lentamente o são por aqueles que já atingiram uma maturidade pessoal compatível para tal.

A humanidade é assim mesmo. Toda militância em mudar o mundo é minimamente eficaz se tenta impor o que ainda não está no coração e na mente dos demais.

Ao tentarmos impor o pacifismo, por exemplo, corremos o risco de conquistar ideologicamente os pacifistas, mas nos tornarmos reféns dos violentos não-pacíficos que, assim, tornam-se soberanos. Esse o perigo de qualquer ilusão além das possibilidades do seu tempo, como é a ideia de que podemos ser brandos com criminosos contumazes que, livres e impunes, continuam a tirar vidas e restringir o esforço laboral de muitos.

Você quer mudar o mundo? Mude-se. Seja melhor hoje do que foi ontem. Mudando-se, conquista aqueles que seu exemplo for capaz de atingir no coração. Todo o mais é apenas e tão somente um sonho de Ícaro. A mudança é sempre interior e, para mudar nosso interior, só dois elementos são eficazes: amor e dor. Infelizmente é assim.