Violência e amadurecimento

Como são fracos os que precisam da força.

Refletimos cedo sobre o papel da violência na manutenção da vida em nosso planeta. É inegável que, sem a violência, a vida seria diferente por aqui. Leões, tubarões, ursos e louva-deus seriam herbívoros ou não existiriam. A seleção natural teria outro resultado.

Nascemos violentos ou não violentos? É uma resposta complexa e penso, embora desejasse o contrário, que é errônea a certeza que somos não violentos ao nascer. A certeza que tenho é que não nascemos preparados para o agir violento. Os genitores contudo, da espécie que forem, precisaram da violência para nos proteger e nos alimentar e isso, por si, demonstra a dificuldade da resposta.

A reflexão que proponho tem como menos relevante a nossa característica de nascimento e como mais relevante o que o processo de evolução da humanidade nos permite vivenciar (fica claro que não sou dos que acha que a humanidade não evolui e lamento muito que haja setores consideráveis da ciência em nossos dias que defendam isso).

Grandes nomes da humanidade se transformaram em ícones por sua forma de lidar com o poder e, consequentemente, com os outros seres. Júlio César, Zumbi dos Palmares e Napoleão através do uso da violência. Jesus Cristo, Buda e Gandhi através da não violência. Para estes últimos, o poder a ser buscado é o de elaboração pessoal e, por isso, não é necessária a violência para tornar-se poderoso e mudar o mundo. Essa simples elaboração atesta diversos valores que devem ser enfrentados para a reflexão do tema.

O uso da violência é sempre mais imperativo quando não sabemos nos relacionar conosco e com nosso meio. Uns dirão: mas e quando o meio é violento contigo, vais te submeter? Bem, Jesus Cristo se submeteu. E também se insurgiu. A sua insubmissão, contudo, não primou pela agressão ao agressor. Buscou mostrar que a elaboração pessoal e a reformulação no trato aos outros, especialmente com os que nos agridem (“se ofenderem tua face esquerda, oferece a direita”), é a única solução efetiva para o problema. Buda, Gandhi, Krishna, Zoroastro e muitos outros foram pelo mesmo caminho.

Há, contudo, um limite que admito dificílimo ao enfrentamento: diz respeito a tolerar a violência contra quem amamos. Você se sacrificar (como fez Jesus e Gandhi) por uma causa é muito mais fácil do que permitir o sacrifício dos seus filhos, seus pais ou qualquer outro ente amado.

Chico Xavier ensinou que a violência é o fato de filtragem do nosso plano existencial. Chegará um ponto da evolução humana em que os violentos serão deserdados, pois impedirão o prosseguimento do processo evolutivo. Contra o violento que não busca se corrigir pouco adianta a melhor das pessoas, pois ele responderá com uma imposição física ante a imposição moral e espiritual.

Então afirmo que a violência é um fator de distinção entre os seres humanos que querem melhorarem-se e os que não querem. No nosso atual momento, só poderia ser aceita em caso de legítima defesa e em nenhum outro mais, muito menos uma violência institucionalizada ou recomendada. Não estou dizendo com isso que o pacifismo como ideologia nos basta… infelizmente não basta, pois se assumirmos essa postura, seremos suplantados pelos violentos imorais. Ainda precisamos administrar doses defensivas de violência sempre que necessário, especialmente para nos defendermos da injustiça (inclusive da estatal ou da institucional) bem como para defender nossos entes queridos. Devemos fazer isso única e exclusivamente neste caso, para prosseguirmos nosso aprimoramento e preservarmos nosso planeta.

Por fim, reflita que isso significa muita coisa, dentre as quais que não podemos tolerar infanticídios indígenas, penas de morte, abortos por mero interesse e quaisquer outros atos de violência.