Punir educa

Nenhuma pessoa sã conectada com o Século XXI tem dúvida de que é a educação a responsável pela evolução, pacificação e realização da humanidade. Na verdade o que se debate é o que constitui educação, do que é feita, como torná-la eficaz.

Apenas no século passado a educação tornou-se pública e instituída como direito fundamental e, decorrente disso, a estrutura estatal dos diversos países, cada um a sua maneira, passou a proporcioná-la. Antes disso, educar era um privilégio.

Educadores do Século XX identificaram o vínculo necessário entre educação e afeto, estabelecendo bases pedagógicas hoje consagradas. Segundo acreditamos, educar imprescinde de vínculos entre educador e educandos, principalmente na primeira infância, seja na educação formal ou informal.

Nos últimos anos, contudo, mistificou-se o papel da educação, dando ao professor um caráter quase mágico de transformar a humanidade. É verdade… a disseminação da educação mudou o mundo em pouco tempo, de uma forma que jamais vimos, alterando bases sociais, políticas, científicas e individuais. Contudo não cabe ao professor estabelecer valores que não são replicados em casa, na família. São pais e mães – ou aqueles que desempenham este papel – os primeiros e principais educadores do ser humano, os responsáveis por transmitir os valores interiorizados de respeito, tolerância, pacificidade, coragem, determinação e todos mais necessários a uma vida plena e socialmente comprometida. A gente que recebe educação formal plena mas carece de educação familiar sobre valores é essa que usa toda uma gama de conhecimentos para subtrair os resultados do esforço alheio, às vezes à custa de outras vidas inclusive.

Como escrito acima, nos últimos anos fomos seduzidos por teorias que transferiram da família para o (Estado) educador a responsabilidade de educar, e isso simplesmente é ridículo. O educador (Estado) participa sim da educação de forma fundamental, mas os valores necessário para se usufruir devidamente da educação formal são precedidos de um esforço familiar cada vez menos presente.

Outra ideia errônea decorrente desta visão retirou dos jovens o dever de trabalho, assunto para outro momento, bem como a possibilidade de sofrer punição. Claro que não estamos falando de palmatórias, de castigos físicos ou qualquer outra violência. Punir virou estigma, palavrão. E, por mais que doa a quem discorda, punir educa e é indispensável, principalmente na educação com afeto, pois uma pessoa que ama punindo outra amada que agiu muito mal está sim cuidando, fortalecendo e prevenindo.

Aqui o papel do Estado na educação ultrapassa os limites do que hoje está estabelecido, ao menos em nosso país. A impunidade deseducou nossa gente e o retorno das punições estatais devidamente medidas e processadas irá nos curar dessa absurda e gigantesca crise de valores que nos torna um dos países mais violentos e menos educados da Terra.

Escravidão – Volume I

Terminei de ler recentemente mais esse livro do jornalista Laurentino Gomes. É uma majestosa leitura, complexa e bastante completa. Aborda precisamente a escravidão africana, muito antes do europeu transformá-la em um negócio e muito antes do debate ideológico deformar o trato que se deve dar ao tema.

O autor traz elementos históricos que demonstram a responsabilidade de cada um dos envolvidos na escravidão do período colonial: o europeu, que industrializou e lucrou com um sistema milenar integrante da cultura africana; o africano, que tornou-se operador de um sistema industrial europeu de produção de mão-de-obra cativa; a Igreja, que usou, referendou e permitiu ideologicamente esse holocausto.

Há uma reflexão que entendo necessária sobre o tema: a escravidão é um fato presente em toda história humana, sem privilegiar praticamente nenhum povo ou região. Ameríndios, orientais, europeus, nórdicos, africanos… todos conviveram com a escravidão.

Ao contrário, contudo, do que propõe a forte narrativa dos nossos tempos, os brancos tiveram um papel diferenciado ante o escravismo além do de transformarem a cultura escravista africana num negócio lucrativo por 400 anos: os brancos foram os primeiros a impor ideologicamente, legalmente e, consequentemente, culturalmente o fim do escravismo. Foi a Inglaterra, com sua Revolução Industrial, quem iniciou um debate que resultou no fim da escravatura, seja a africana, seja a que for.

Hoje o debate se acalora nas consequências e nas compensações sociais. Vamos adiante!